Você por acaso já se perguntou no que a maioria dos animes se baseia? Traduzindo: já se perguntou como os mangás foram criados a primeira vez, ou como eles surgiram na história?
Aliás, você sabe qual é a mídia que precede à animação que passa hoje na televisão japonesa?
Além disso, você é uma pessoa que está em meio a cultura pop japonesa e se vê constantemente consumindo conteúdo deste âmbito, mas não faz ideia de como tudo isso começou?
Caso você se enquadre nos itens acima e sua vontade e saber sobre o inicio das animações, aconselho visitar outra postagem aqui da Cúpula onde comentei sobre como as animações japonesas surgiram.
Mas, agora, os holofotes mudaram de foco. Neste artigo aqui, eu farei algo parecido com o que fiz com os animes. Só que, dessa vez, o assunto será sobre os principais roteiros dos animes.
Falo da mídia que é fundação para as animações japonesas que tanto amamos. Sim, falarei deles, dos aclamados mangás! Da história dos mangás. De como os mangás surgiram. Como os mangás foram criados!
Aprender nunca é demais. Ainda mais quando se trata de um assunto tão fomentado e rico quanto este. Então, vem comigo!
Segundo dados da Associação Japonesa de Papel, em 2015, os mangás representavam por volta de 40% do material impresso no Japão. Além disso, é um mercado que movimenta perto de US$ 3,6 bilhões (mais de R$ 14 bilhões) em vendas por ano.
Esse valor é cerca de 10 vezes maior que a receita anual da Netflix Brasil! Em 2018, de acordo com o site da UOL, a gigante vermelha faturou cerca de R$ 1,4 bilhão. Ou seja, mangás movimentaram dez fucking vezes mais que a Netflix. É muita grana.
Sempre achei importante ter uma breve noção de como as coisas que temos hoje em dia são como são. Ou seja, como a humanidade vem sempre melhorando suas mercadorias, seja através de inovações tecnológicas ou de ideias revolucionárias.
A constante melhora do produto se dá presente em nossa sociedade todo dia, seja ela de valor estético ou funcional. Se você pretende vender, precisa melhorar o que você tem a oferecer ao seu cliente final.
Apesar de parecer óbvio para alguns, nem todos se ligam que mangás são o “produto final”. Sendo assim, os mangás não são exceção da regra da “melhora constante”.
Os mangás são responsáveis por incentivar diversos estúdios e produtoras a investir em animes, filmes e séries. O conteúdo dessas animações costuma muitas vezes ser baseado exclusivamente num mangá previamente escrito por um mangaká, por exemplo.
Animes também podem ser baseados em diversos outros materiais, como SAO e Re:Zero, que são inspirados em light novels. Podem também ser uma criação “do zero”. Estes são chamados de “animes originais”, como Psycho Pass e Kill la Kill.
Entretanto, mangás ainda são os que dão origens aos títulos de maior renome nacional e internacional. Cito One Piece, Naruto, Bleach, Shingeki no Kyojin, Boku no Hero Academia… são muitos os chamados “megahits“.
Como funciona o processo de criação e idealização de um mangá vai ficar para outro post também. O foco neste aqui é a história dos mangás. Em outras palavras, como os mangás foram criados, como surgiram.
Agora sim, começando a viagem temporal!
É dito que os mangás têm sua origem datada em aproximadamente nove séculos atrás. Ou seja, lá pelos séculos XII e XIII é que foram encontrados os primeiros materiais considerados como precursores do que chamamos hoje em dia de mangá.
Esses materiais são basicamente um conjunto de 4 pergaminhos, chamados Chōjū-jinbutsu-giga. Eles contém desenhos que tratam sobre o dia a dia e a cultura do povo daquela época. Toba Sōjō, um monge da antiguidade, é tido como o criador dos pergaminhos.
Contudo, historiadores afirmam que há muita diversidade dos desenhos. Logo, é provável que mais artistas se envolveram na criação dos chamados “primeiros mangás”.
O falecido Isao Takahata, co-fundador e diretor do estúdio Ghibli, defendia que tais pergaminhos não têm qualquer tipo de influência sobre os mangás modernos.
Não querendo julgar a opinião da pessoa que criou um dos mais incríveis estúdios de todos os tempos, mas, ao meu ver, toda obra japonesa que traga desenhos e textos como entretenimento teve sim influência sobre os mangás atuais.
Em outras palavras, influenciam sim em como mangás foram criados. Umas mais que outras, porém todas têm um pedacinho de influência.
Afinal, quem garante que alguma outra pessoa além dos criadores dessas datadas obras teria essa ideia? Quero dizer, alguém tinha que começar – e que bom que começaram bem cedo!
Avançando bastante na história, durante a primeira metade século XIX, os kibyoshis (livros ilustrados) aparecem, com publicações como o renomado Hokusai Manga (1814–1834), uma série que tratava sobre o cotidiano dos japoneses, bem como paisagens e situações de humor interpessoal.
De acordo com o autor e tradutor Adam L. Kern, os kibyoshis podem ter sido os primeiros quadrinhos do mundo, pois eles tratam sobre temas cômicos, satíricos e românticos, igual o mangá moderno.
Apesar disso, Kern diz que os kibyoshis não se transformaram nos mangás modernos. O autor alega que eles apenas inspiraram o nascimento do que conhecemos hoje como “mangás”. A inspiração provém do incentivo do uso de textos com imagens para contar uma história.
Na segunda metade do século XIX, durante a Revolução Industrial, o humor gráfico europeu desembarca ao Japão, graças a chegada de vários imigrantes europeus no território nipônico – e talvez aqui tenha sido um dos “booms” da história dos mangás.
Os trabalhadores ocidentais eram da imprensa e já eram familiarizados com charges europeias, os jornalistas europeus influenciaram os autores japoneses. Estes, começaram a viver um processo de absorção cultural, ou seja, a cultura japonesa absorvendo parte da cultura ocidental.
Um dos mais influentes cartunistas de naturalidade britânica que chegou ao Japão nesta época foi Charles Wirgman. Ele se estabeleceu em Yokohama e, em 1861, criou um jornal satírico chamado: The Japan Punch.
Ele também influenciou vários artistas japoneses, por meio do ensinamento de técnicas ocidentais de desenho e pintura. Pode-se dizer então, que os mangás começaram a ser criados por aqui, de fato.
Além disso, influenciados pela Japan Punch, Kanagaki Robun e Kawanabe Kyosai criaram a primeira revista de mangá em 1874, intitulada “Eishinbun Nipponchi“.
A revista não se tornou popular por possuir desenhos pouco carismáticos e muito simplórios. Tal fato acarretou em seu fechamento em apenas 3 edições.
Apesar do fracasso, a falecida editora incentivou outros investidores a entrar no mercado, o que acabou dando origem a algumas outras revistas, tais como a Kisho Shinbun (1875), a MaruMaru Shinbun (1877) e a Garakuta Chinpo, em 1879.
A Shounen Sekai foi a primeira revista shounen. Ela foi criada em 1895 por Iwaya Sazanami, um famoso escritor de japonês de literatura infantil.
A expansão de técnicas europeias resultou em uma lenta, mas segura, produção de artistas japoneses como Rakuten Kitazawa, cujo mangá Tagosaku to Mokube no Tokyo Kenbutsu (1902) é considerado o primeiro mangá moderno.
Em 1905, Kitazawa lançou a Shoujo Sekai, que, sendo uma versão feminina da Shounen Sekai, é considerada a primeira revista shoujo.
Ainda, ele lançou a Shounen Pakku, que é considerada a primeira revista de mangás para as crianças (kodomo).
Sob ocupação americana após a Segunda Guerra Mundial, os mangakás passam a sofrer grande influência das histórias em quadrinhos ocidentais de super heróis americanos.
Aprendendo com os estadunidenses, os artistas japoneses começaram a criar seu estilo próprio. Sendo assim, após tal processo de melhora do produto, as charges finalmente foram publicadas em jornais e revistas de assuntos gerais ou de notícias.
Com o tempo, devido à alta qualidade e demanda do público japonês, elas evoluíram ainda mais e conquistaram seu espaço em revistas autorais semanais, mensais ou semestrais.
Contudo, Takashi Murakami, um artista contemporâneo, alega que eventos relacionados a Segunda Guerra mundial fizeram os japoneses perderem sua virilidade e confiança, e por isso começaram a criar títulos que buscam uma abordagem mais inofensiva e bonitinha, dando origem às obras “kawaii”. Aliás, eu concordo com ele, os japoneses forçaram a barra em algumas obras de idols por aí, até mesmo hoje em dia.
Além disso, Takayumi Tatsumi, um professor universitário japonês da atualidade, viu a ocupação americana como uma brecha para uma relação de livre comércio econômico e cultural entre os países, criando uma era pós-moderna e de compartilhamento entre cultura de quadrinhos, filme, televisão, música e arte, que, para Tatsumi, foi crucial para a concepção do mangá como é hoje.
Resumindo, tanto para Murakami quanto para Tatsumi, a “globalização” se refere especialmente ao fluxo de compartilhamento cultural e material entre uma nação e outra. Esses estudiosos defendem a história dos mangás como:
“A soma de continuidades e descontinuidades históricas entre fatores estéticos e culturais com inovações pós-segunda-guerra e globalização.”
Em 1946, um artista muito influenciado por Walt Disney, revoluciona o mangá como era até então; dando vida ao mangá como conhecemos hoje. O nome desse artista é Osamu Tezuka. Você lembra dele da postagem da história dos animes? Se leu, com certeza lembra (e se não leu, vai ler rs).
As características faciais passam a ser semelhantes às dos desenhos da Disney, onde olhos, boca, sobrancelhas e nariz são desenhados de maneira bastante exageradas para aumentar a expressividade dos personagens.
Tezuka foi quem introduziu os movimentos nas histórias através de efeitos gráficos, como linhas que dão a impressão de velocidade ou onomatopeias que se integram com a arte.
Também foi reconhecido pela alternância de planos e enquadramentos como os usados no cinema. Ainda, as histórias ficaram mais longas e começaram a ser divididas em capítulos.
Nessa época mangás eram bastante caros. Sendo assim, começaram a surgir compilações em akahons.
Eram livros produzidos com papel mais barato e com capa vermelha, com tamanho semelhante a um cartão postal. A prática de aluguel de livros e revistas, começa a ser usada para mangás também.
Em 1947, Tezuka publicou no formato akahon a sua obra Shin Takarajima (A Nova Ilha do Tesouro), um título de grande de sucesso que chegou a vender 400 mil exemplares.
A passagem do papel para a televisão tornou-se comum após Osamu Tezuka. Porque? Porque ele produziu o anime Astro Boy.
Em sua maioria, os mangás foram criados para ter como público-alvo as crianças e jovens.
Todavia, Tezuka ainda não satisfeito com todos os seus feitos, tanto na história dos mangás quanto dos animes, começa a explorar novos gêneros, participando no aparecimento de mangás para adultos, com os quais ele pôde abordar assuntos mais sérios e criar roteiros mais complexos.
Ele também foi mentor de importantes mangaká. Trago alguns nomes, como Fujiko & Fujio (dupla criadora de Doraemon), Akira Matsumoto (criador de Space Battleship Yamato), e Shotaro Ishinomori (criador de Cyborgue 009).
Naturalmente, os mangás cresceram simultaneamente com seus leitores e diversificaram-se segundo o gosto de um público cada vez mais importante, tornando-se aceitos culturalmente no Japão.
Hoje em dia, os mangás se tornaram um verdadeiro fenômeno ao alcançar todas as classes sociais e todas as faixas etárias, tudo graças ao acessível preço e a diversificação de suas temáticas e histórias.
Eles abordam todos os temas que você possa imaginar. Vida escolar, a do trabalhador, os esportes, o amor, a guerra, o medo, séries tiradas da literatura japonesa (ou até de outros países), a economia, a culinária… sério, existem mangás sobre quase qualquer coisa!
A história dos mangás é maravilhosa!
Segundo o site JBOX eu perdi o link me desculpe, a primeira revista de mangás contemporânea foi a Gekkan Manga Shounen, da editora Kodansha, lançada em 1947 e extinta em 1955.
Mesmo tendo falhado, grandes nomes nasceram na época da morte da pioneira Gekkan. Tais como: Ribon (1955), Shuukan Shounen Sunday (1959) e Nakayoshi (1954).
Em 1960, a Kodansha ressurge com a Shounen Magazine. A Big Comic nasce em 1968, a Shounen Champion em 1969 e por último, mas não menos importante, a grande Shounen Jump (Shueisha), em 1968, concluindo o que eu considero como “passado dos mangás”, daí para frente eu já considero recente demais para ser chamado de “história dos mangás”.
História para mim remete a passado a médio-longo prazo, então, acho que até aqui já deu para ter uma boa noção de como mangás foram criados e como surgiram.
Acredito que o grande sucesso dos mangás no Japão se dá principalmente pelo fato de os japoneses serem um povo muito apaixonado.
O que eu quero dizer com isso? Bom, mesmo na época de guerra e tal, quando o governo chegou a censurar muita coisa relacionada a essa mídia, os japoneses queriam continuar se expressando.
Logo, se submeteram a produzir conteúdos relacionados ao âmbito militares, tudo para continuar contribuindo para o que hoje chamamos de história dos mangás.
Felizmente, após a guerra, o governo nipônico acabou com todas as formas de censura relacionadas aos mangás. Isso deu a liberdade necessária para os mangakás e artistas desabrocharem e começarem a de fato impulsionar com tudo a indústria.
Penso que por ser um povo já rotulado como “introvertido”, os mangás, para os japoneses, trazem àqueles que os leem momentos de euforia, felicidade e liberdade. Abrem as portas da imaginação, e permitem que você consiga desfrutar de uma boa história, à um preço baixíssimo.
Para nós, ocidentais, os mangás possuem “”preços acessíveis””, mas não são tão baratos quanto lá.
Todavia garanto que, se você der chance, os mangás vão te cativar. Os momentos de leitura traz pra frente dos quadrinhos em preto e branco serão momentos de paz, conforto e diversão.
E aí, o que achou? Deu para entender como os mangás foram criados? Conseguiu acompanhar a história? Deixa o like e comenta o que achou!
Para complementar sua experiência sobre como a história dos mangás funcionou, ou seja, como os mangás foram criados, assiste esse vídeo do canal Cronosfera, do Guto, que é muito bacana e complementa bem o que vimos aqui!
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